Livros para leitores antes mesmo de completar 1 ano de vida. Livros que vão emocionar tanto os adultos quanto as crianças, cada um, cada uma, talvez em camadas diferentes. A voz diversa brasileira presente na autoria, na história, no traço e na escolha das palavras, termos e significados. Livros nascidos em várias línguas. Livros que falam sobre amor. Livros que mostram cotidianos poéticos. Livros que vêm de contos ancestrais. Livros de quem aposta no futuro. Editoras grandes, editoras pequenas.
Formatos variados, costurados na capa dura, no grampo, com orelhas, dentro de uma caixa, livro com cara de caderno. Livros que poderiam – ou deveriam – estar nas estantes que os desejassem: esta é a lista dos 30 Melhores Livros Infantis do Ano da Crescer, destacando os livros lançados no Brasil em 2023.
A partir de 6 meses
Eu Primeiro
A autora paulista Lúcia Hiratsuka nunca havia pensado em uma obra para os bebês. Como vem fazendo há vários livros, foi buscar na memória uma referência de infância assim que a editora da Jujuba, Daniela Padilha, começou a falar com ela sobre este desafio. O que faria sentido para um bebê? Encontrou algo melhor ainda: uma história que está tão colada ao desenvolvimento infantil que faz sentido o “desde bebê”. Esta delicadeza de Lúcia tem, basicamente, a repetição de três frases: Eu primeiro. Eu segundo. Eu também! Por que só a última está com ponto de exclamação? Porque quem diz a frase é a criança menor, uma menina que está de olho no que os mais velhos estão fazendo.
A leitora ou leitor vai sentir o ritmo pela sequência típica do livro ilustrado, sabendo que na primeira dupla temos sempre as três crianças e uma brincadeira (uma bola sendo chutada, uma pilha de pedras sendo criada, uma árvore sendo escalada e mais). Conforme viramos a página, vemos os dois meninos na da direita e uma menina pequenina que os observa, na da esquerda. Eles vão se organizando, para cada um ter a sua vez, dizendo “eu primeiro” e “eu segundo”. E ela, em vez de “eu terceiro”, diz “eu também”. Pois é isso que a interessa: ser incluída na situação. Ela os alcança, mas só na página seguinte. E ficamos nessa leitura “um, dois, três” até que este jogo vira – pois ele sempre vira, não é?
Autora: Lúcia Hiratsuka
Jujuba
R$61
jujubaeditora.com.br
Vamos Dormir?
Olha lá ele na capa de novo: o Ratinho do autor belga Guido Van Genechten! Já lemos quando ele precisava saber mais sobre cocôs, fraldas e penicos, e agora a curiosidade é sobre a Lua e as estrelas. Seria possível contá-las? Mas tem mais: e a lanterna que ele adora, como é por dentro?
Ixi, é hora de dormir e ele quer saber como guardar estas dúvidas todas e pegar no sono. Como seus amigos fazem? É assim que as abas das páginas são abertas pela leitora ou leitor e se descobre a tática de cada um. A pomba leva todos os brinquedos para a cama; já o cachorrinho fica virando de um lado para o outro; enquanto a ovelha lê uma história. E o papo segue no virar de página até que todos… zzzzz.
Autor: Guido Van Genecheten
Tradução: Camila Werner
Brinque-book
R$79,90
companhiadasletras.com.br
A partir de 1 ano
Dia de Lua
No começo de 2024, venceu o primeiro lugar como o melhor livro para bebês de 2023 na Feira do Livro Infantil de Bolonha, na Itália, a mais importante do ramo. O livro do paulistano Renato Moriconi foi o escolhido na categoria Toddler (termo inglês que abrange crianças de 1 a 3 anos), do Bologna Ragazzi Award, que só neste ano recebeu 3.355 títulos de editoras de 65 países para concorrerem em 10 categorias. E eles têm razão? Sim!
Dia de Lua é uma divertida história sobre o que acontece quando a Lua aparece quando ainda é dia. Para passar o tempo, ela vai descansar na praia, ajudar o pescador a remar, além de virar guarda-chuva de mergulhador, chifre em zebra e mais um monte de criações de Moriconi a partir do “formato lua”.
Na capa, só ela, intrigando o leitor a ver onde está o nome da obra. Ele é “irmão” de Dia de Sol, obra de Moriconi que amanhece e anoitece ao folhear. Dando ao bebê direito ao literário, o livro compõe a coleção Literatura de Colo, que a editora Jujuba iniciou em 2019, focada na primeiríssima infância.
Autor: Renato Moriconi
Jujuba
R$62
jujubaeditora.com.br
O Catavento
Já viu livro voar? Mesmo de capa dura, folhas firmes no acabamento arredondado com costura e proteção de sobra aos bebês, este voa. Ele venta, na verdade. Nas folhas, nos carimbos, nas colagens do rondoniense Josias Marinho e nas doces palavras-voo da gaúcha Heloisa Pires Lima.
O sol dá bom dia, o vruuuuum começa agitando e catando tudo que vê. Os fios de vento no céu azul estão transformando o que parece já sabido em palavras e imagens para decifrar. Quem vai acertar primeiro: criança ou adulto? Quem vai aprender um vocabulário ancestral e “revirar a história”, como essa menina, a bela do quilombo?
Lançado no ano em que seu primeiro livro, Histórias da Preta, completa 25 anos, Heloisa nos dá a possibilidade de sentir referenciais africanos das ilhas do Caribe ao Brasil, em quilombos, imaginários, brincadeiras. Na companhia de Josias, no entanto, dança com ele uma narrativa em que nem tudo está dado, pois o mais importante é girar.
Autores: Heloisa Pires Lima e Josias Marinho
Editora Passarinho
R$69,90
editorapassarinho.com.br
A partir de 2 anos
Quando a Noite Chega
Capa e contracapa nos colocam em uma rua deserta, com mãe e criança caminhando. Quando abrimos, um desenho com muitas janelas de apartamentos já nas folhas que grudam a capa ao miolo do livro. Que mistério. A história começa e o narrador está no colo, dizendo que tem bastante sono e contando o que vê pelo caminho: a noite e seus costumes. “Todo mundo deve estar em casa”, pensa a criança.
A maior parte do livro é um doce ritmo de sensações dela: de um lado, no colo da mãe, ela diz coisas como “sinto um cheiro gostoso” e vemos do outro lado, pela janela, uma bela torta saindo do forno. Vemos ainda festas, uma televisão ligada e a chegada em casa. A criança não desconecta do que viu, imagina o que acontece depois que passa, se os convidados já deixaram a celebração, se há companhia para comer a torta.
Entre o banal e o extraordinário, o conto-livro ilustrado desta autora japonesa nos leva longe e para dentro da gente. A obra recebeu, em 2016, uma menção especial no prêmio da Feira de Bolonha, na Itália, e, em 2017, foi um dos melhores do ano pelo jornal The New York Times.
Autora: Akiko Miyakoshi
Editora Olho de Vidro
Tradução: Rita Kohl
R$67,90
edicoesolhodevidro.com.br
A partir de 3 anos
Fevereiro
A capa deste livro da mineira Carol Fernandes é um convite à memória: um céu azul, casas coloridas, um mar de gente em branco e azul, um clima de festa. Seja uma vivência de chão, seja um sentimento de ancestralidade, seja a lembrança de olhar aquela cena pela televisão em todo Carnaval, seja uma paisagem de primeira vez: a leitora ou o leitor vai se encontrar com a alegria, o movimento e os sentidos do bloco Afoxé Filhos de Gandhy, uma das forças culturais de Salvador (BA).
Pela perspectiva de um pequeno garoto, vemos os detalhes e os particulares de quem se prepara para um grande momento. Um “grande momento” para sua família, em especial, em que um menino é príncipe e pode ser rei, em que adulto parece brincar, em que gente vira espuma de mar. Poesia em palavras, em pinturas, na textura do papel: há um jogo de importâncias entre o macro e o micro nesta comovente narrativa brasileira dedicada ao cantor e compositor Gilberto Gil. Foi vendo-o falando sobre sua história com o bloco que Carol acessou algo na memória e inventou esta beleza.
Autora: Carol Fernandes
Caixote
R$52
editoracaixote.com.br
Aqui e Aqui
A infância é aquele lugar cheio de dúvidas. Tudo acontece sem parar. Muitas vezes, as crianças ficam sem explicações e não encontram um jeito de perguntar. Ou será que escolhem o não saber? O menino desta história lembra da infância em textos e imagens.
Com a mesma curiosidade que persegue a caminhada das formigas, está de olho num grande mistério: como é que ele podia dormir naquela cama em cima de um chão marrom escuro e acordar numa outra, sob um chão mais claro e livros diferentes por perto? Casa dentro, casa fora, plantas, aconchego, um conforto… ele decide ir em busca da solução deste enigma.
E é aí que vamos fundo nas suas poéticas e engraçadas hipóteses: seria ele um sonâmbulo? Será que da casa dele para a da Luzimar existiria um portal? O irmão mais velho poderia ajudar? Mas a hora de dormir chegou de novo, e como ele tinha bagunçado a casa demais nas suas investigações, resolveu aceitar. No meio da noite, no entanto, ele acordou e a amorosa verdade se revelou. Caio Zero, um jovem autor carioca, nos estimula a juntar textos e imagens para compreender os meandros desta narrativa, típico do bom uso da linguagem híbrida do livro ilustrado.
Autor: Caio Zero
Companhia das Letrinhas
R$59,90
companhiadasletras.com.br
A Menina dos Cabelos D’Água
Pegamos o livro nas mãos e ele está guardado. Trata-se de uma espécie de caixa em que, com cuidado, desprendemos o papel encaixado. Dentro, 26 folhas-cartão de um azul impressionante. De um lado, imagens de Luciana Itanifè; do outro, o texto de Sidnei Nogueira, escritor, professor e babalorixá de Luciana.
Do cartão dois em diante, desenhos com uma textura de pintura que parecem quadros, daqueles que queremos colocar na parede. No primeiro, um bebê e um lindíssimo colo e, atrás, uma história: “Era uma vez uma menina que tinha os cabelos d’água. Sua mãe a chamou de Omilayó: as águas da alegria. Esse era o seu nome.
Ela vivia em uma pequena vila, perto da floresta”. Nós podemos, sim, acompanhar a narrativa numericamente. Mas, há também uma vontade de espalhar as páginas, abrir o livro pelo espaço, ver que a menina aprendeu a andar, que suas águas faziam brotar flores, que amava brincar com a terra, e que os cabelos-água pingavam até nas risadas dos amigos, o que ela não gostava.
Tranças, turbantes coloridos, nada segurava aquela água toda e brincar em companhia se tornava difícil. Até que a tia relembrou uma rainha muito especial. “Às vezes, minha avó se vestia como uma rainha. Usava essa coroa, o adê de Iemanjá”, contou. “Este espelho aqui, minha filha, é o abebé de Iemanjá!”, completou. E, na ancestralidade, a cultura iorubá vai se dando na história, deixando a personagem feliz e pertencente a uma beleza muito maior.
Autores: Sidnei Nogueira e Luciana Itanifè
Baião
R$79,90
baiaolivros.com.br
Boa Noite, Bo
Já é hora de dormir, mas o pequeno Bo está a mil. Você acha que já viu uma história assim. Você acha que Bo vai inventar um monte de coisas para enrolar a mãe. Mas não é nada disso. Ou, não é só isso: a mãe de Bo é incrível também no quesito criatividade.
A hora de dormir puxa a hora de um último lanche e a hora do banho até que, finalmente, o menino descanse em sua cama. A mãe o avista brincando com aquela sensação que conhecemos bem de “parece que ele não vai dormir nunca”. Porém, escolhe entrar na brincadeira. E inventa com ele muitas situações e personagens, fazendo a “mágica” de fazer o filho seguir o que é preciso, sem que ele saia da fantasia, um lugar que o menino quer e precisa habitar tanto quanto da companhia da mãe.
Para além desta poética do cotidiano, as autoras norueguesas fazem um jogo de texto e imagem. Entre os diálogos, estamos avistando imagens fortes, coloridas e grandes, ora ambientadas na casa, ora na imaginação. Quando o livro acabar, há de se voltar e se demorar mais e mais nas páginas, cheias de detalhes nas ilustrações, entrelaçadas da capa à contracapa, e mostrando uma “maternidade real” interessante.
Autoras: Kjersti Annesdatter Skomsvold e Mari Kanstand Johnsen
Tradução: Fernanda Sarmatz Akesson
Baião
R$69,90
baiaolivros.com.br
Cadê Cadê
Este é um livro que deixa sem resposta a uma das questões mais feitas aos livros para a infância: para que idade é? O “Cadê Cadê” convida os bem pequenos. Mas, ao longo do livro, nota-se uma complexidade que talvez precise um pouco de mais vivência para captar.
Ao mesmo tempo, percebemos que pessoas de idades bem avançadas podem talvez não ser capazes de sacar a profundidade da história. É isso, talvez, que o torna mais interessante. Quem escreveu foi a gaúcha Paula Taitelbaum, criadora da Editora Piu. Quem ilustrou foi o artista plástico guarani Xadalu Tupã Jekupé, que nos encaminha a um brincar de “zoom out” a cada virar de página.
“Cadê? Cadê a semente?/Semente tá no colar”, “Cadê? Cadê o colar?/Colar tá em cunhatã”, Cadê? Cadê cunhatã?/Cunhatã tá na margem”, e é por aí que vamos todos nos localizando. Também do Rio Grande do Sul, Xadalu cria a partir de suas vivências nas aldeias e, como o livro é bilíngue (português e guarani), a tradutora Ara Poty (Maria Ortega) marca sua presença ao lado dos dois autores.
Autores: Xadalu Tupã Jekupé e Paula Taitelbaum
Editora Piu
Tradução: Ara Poty (Maria Ortega)
R$ 59
editorapiu.com.br
A partir de 4 anos
O Que Mamãe Não Sabe…
Quando mamãe sai para trabalhar, o pequeno Bento tem companhia de sobra. Talvez não seja a que imaginamos de cara, mas, ao primeiro movimento da cauda de um tigre, opa, parece-nos que tem algo ali familiar. Viramos a página e vemos um gênio, aquele mesmo, amigo de Aladim; depois, um planeta, um príncipe, uma rosa; mais para frente, princesas de mitos iorubás… e é aí que a gente desconfia que Rodrigo Andrade está querendo compartilhar algo importante e que, talvez, já saibamos: quando lemos e conhecemos histórias que amamos, elas não nos deixam jamais.
Bento é um menino que lê variados livros. Os desenhos e as frases a cada dupla podem nos remeter a “clássicos” pessoais. Mas, mesmo que não conheçamos todas as leituras do menino – de Rudyard Kipling a Eva Furnari, passando por Kiusam de Oliveira e Jean-Michel Basquiat –, viajamos com ele. Afinal, nos livros literários, temos momentos de generosidade e cuidado, somos levados a novas ideias, aprendemos que temos que nos proteger de certas situações e que, às vezes, é hora de brincar, relaxar, soltar a imaginação e acreditar no impossível. Do mesmo jeitinho que (n)a vida.
Autor: Rodrigo Andrade
Caixote
R$52
editoracaixote.com.br
O Menino com Flores no Cabelo
Em um grupo cheio de belíssimas diferenças, está Davi, o menino com flores no cabelo. Todo mundo o adora, pois ele é gentil com os amigos, diverte-se inventando músicas e os passarinhos passam tempos na sua cabeça. Um dia, uma pétala se perdeu. E mais outra, e outra.
Nada mais foi como antes: no lugar das flores, só se viam galhos pontudos e os amigos se afastaram. O narrador, melhor amigo de Davi, então, tem uma ideia e devolve de uma maneira surpreendente a possibilidade de desabrochar outras belezas.
O autor inglês diz que suas histórias partem de seus desenhos, de uma imagem. Talvez esta tivesse tanta boniteza que ele cria uma metáfora de mudanças e situações difíceis que as infâncias podem enfrentar. No desenho da capa, há um relevo de tocar: quem sabe uma forma de a gente nunca se esquecer de fazer carinho em quem precisa.
Autor: Jarvis
Tradução: Julia Bussius
Pequena Zahar
R$69,90
companhiadasletras.com.br
A Catástrofe
O relevo na capa não escapa à interpretação do adulto: é a marca de um ferro de passar roupa. É ali também que vemos uma textura que simula um bordado, parece que olhamos para uma mesa. Mas e este título? “Catástrofe”? Por que será?
A narradora polonesa Iwona Chmielewska (a mesma de Diário de Blumka) revela aos poucos, primeiro apresentando a toalha inteira, a preferida da mãe. A gente vê que é uma jovem, nem tão pequena para segurar um ferro quente, mas nem tão madura para lidar com a situação: um descuido e… Porém, o que ela narra não é o que estamos vendo. Assim, a autora diverte o leitor com imagens diversas, a partir da marca tão conhecida no dia a dia doméstico.
Com base nesta impressão que ela chama de “mancha”, vai detalhando as táticas (dicas na internet, rezas, botar a culpa no irmão mais novo, etc.) e criando um universo de possibilidades entre o literal e o metafórico.
Autora: Iwona Chmielewska
Tradução: Guilherme Semionato
Yellowfante
R$74,90
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Os Dengos na Moringa de Voinha
A história toda parte daquele objeto de barro, imagem fixa nos pensamentos da neta da Voinha Marina. A moringa, às vezes, lhe parece uma pessoa de pé; outras, lembra o vermelho do baobá no quintal. Também é disparador do cheiro bom do angu que a tia faz. Até para escutar o pai tocando cuíca na beira da varanda, esta moringa agita os sentimentos e as memórias da menina.
A partir de palavras de origem banto e com formas e cores aconchegantes, a cada virar de página, a escritora baiana Ana Fátima e a ilustradora paranaense Fernanda Rodrigues nos carregam a uma imensidão de detalhes e sentidos de uma poética do dia a dia, daqueles que não passam despercebidos. Muitos menos, os dengos desta amorosa família.
Autoras: Ana Fátima e Fernanda Rodrigues
Brinque-Book
R$54,90
companhiadasletras.com.br
Mergulho
Às vezes, amamos muito o mar, mas não estamos perto para curtir seus detalhes o quanto gostaríamos. Com Arthur, foi mais ou menos assim: um dia, a cama amanheceu molhada. Correram para o médico, mergulharam fundo: dos pulmões dele ouvia-se sons de golfinhos agitados e esguichos de baleias inconformadas.
Quanto mais aprofundavam o exame, viam de tudo: de passeio de águas-vivas a duelos de peixe-espadas. A movimentação era tamanha que quase escapou uma mordida de tubarão! Que aventura é essa no nonsense de textos de Volnei Canônica e imagens de Mariana Massarani? Ufa, o diagnóstico veio: é respirar fundo, pois dentro de nós cabe um oceano!
Autores: Volnei Canônica e Mariana Massarani
Editora do Brasil
R$51,90
editoradobrasil.com.br
A partir de 5 anos
Quando as Coisas Desacontecem
Gabriela é daquelas meninas que amam o mar e tantos detalhes da natureza. Observando a tudo, também é daquelas que se fazem um monte de perguntas. E sua curiosidade a levou a uma questão filosófica: o que acontece com as coisas quando elas desacontecem? Rio vira mar, semente se faz fruto, nuvem desmancha em chuva. Será que a menina estava só pensando sobre transformações ou era outra coisa?
A escrita sensível da mineira – radicada em Brasília – Alessandra Roscoe nos leva a pensar se o livro é sobre finitude. Os desenhos doces e profundos de Odilon Moraes nos colocam numa praia com poucos detalhes e muitas camadas de interpretação. Com a perspectiva de uma narrativa “particular” visual, ele nos aponta o que pode estar no coração de tanta pergunta. Ao final, é o entrelace entre texto e imagem que nos emociona – e podemos nos dar conta de que as melhores respostas chegam em conversas que juntam adultos e crianças, assim como este e outros livros que amamos.
Autores: Alessandra Roscoe e Odilon Moraes
Gaivota
R$65
editorabiruta.com.br
Talvez Você Consiga
“Disseram que eu não podia mudar o mundo, que não valia a briga, mas uma vozinha soprou em meu ouvido… talvez você consiga.” Este é o mote e estas são as primeiras frases do livro – onde o encontro dos desenhos da premiada autora mineira Anna Cunha com o texto da britânica Imogen Foxell simplesmente torna o seu folhear irresistível. As páginas são tão leves e, ao mesmo tempo, profundas, que parecem se virar sozinhas.
Nos encontramos com a menina na companhia do improvável, do grão diante do solo seco, da falta, dos extremos até que… crescem as folhas, brotam as flores e a nossa esperança diante da história, da vida. Porque o que é acolhido cria raízes. Então, quando vêm as tempestades, a gente precisa só de alguém por perto que ainda acredite nas sementes. O livro foi lançado primeiro no Reino Unido, em 2022.
Autoras: Imogen Foxell e Anna Cunha
Tradução: Leo Cunha
Pequena Zahar
R$59,90
companhiadasletras.com.br
Piscina
Existe um recurso muito usado em livros ilustrados que é a página em branco. Ela sempre nos provoca a pensar que há algo que deve aparecer na página seguinte. Como se fosse uma pausa. Mas a autora sul-coreana Jiyheon Lee já nos dá isso de cara. Uma criança está de touca e óculos de natação diante do quê? Vira página e: uma piscina vazia! Vira mais uma e: tem um monte de gente chegando!
Vira a próxima e: lotou! O que fazer? Parece não haver mais uma gota de espaço. Porém ela encara, mergulha e dá de cara com outra criança, uma única, no meio de toda aquela gente. Agora, no livro e no encontro entre as duas, só existem as duas. E uma imensidão de outros seres – que talvez existam, talvez não – para ambas explorarem juntas. Que aventura temos a chance de acompanhar nesta narrativa criada somente com imagens e altas profundezas de cada um de nós.
Autora: Jiyheon Lee
Tradução (dos paratextos): Ara Cultural
Companhia das Letrinhas
R$69,90
companhiadasletras.com.br
A partir de 6 anos
Domingo
Há limite na amizade entre um menino e um cachorro? Há limite entre a rotina e o sonho? Neste livro do cearense morador de São Paulo, Marcelo Tolentino, todo domingo era igual. O mesmo papo diante da mesa do almoço, as mesmas pessoas. Em um deles, Martim decidiu que precisava de algo novo: daria uma volta ao mundo. Chamou o vovô, o papai, a mamãe… mas só seu fiel amigo Fubá é que parecia disposto a correr e latir para o que fosse preciso. E então o corriqueiro vira aventura.
O filtro de barro fica com cara de castelo, a geladeira, do polo sul. O bolo que a mamãe fazia entra em erupção e as aventuras se tornam diversas e inacreditáveis! A cada dupla, um domingo que desafia o possível e que, depois, rende muitas histórias para contar.
Autor: Marcelo Tolentino
Companhia das Letrinhas
R$59,90
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Os Pombos
Pássaros coloridos voam nas primeiras páginas, encontram-se com outros, pousam na fiação elétrica de rua, ficam. Só que, na primeira vez em que um texto aparece, lemos: “Há muito tempo os pombos chegaram na cidade” e, nos desenhos, aquela rua está tomada por outros habitantes.
Ainda pombos? Um deles dorme na calçada, outros estão construindo, eles mesmos, suas casas de tijolos. Não são atrativos como os cachorros, com quem todo mundo fala, e alguns fingem que eles sequer existem. Nas palavras de Blandina Franco e imagens de José Carlos Lollo, a angústia é inevitável. O livro separa as pessoas em dois grupos e isso nos incomoda muito. Uns têm a força, outros não têm mais lugar. Uns são culpados por tudo, outros vivem sem culpa alguma. E as duas últimas duplas de páginas nos dizem tudo que somos. Texto final do Padre Júlio Lancellotti, vigário episcopal importantíssimo para o povo da rua da cidade de São Paulo.
Autores: Blandina Franco e José Carlos Lollo
Companhia das Letrinhas
R$59,90
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Menino Estrela
Havia um menino que observava a Terra lá de longe e sentia muita vontade de visitá-la algum dia. Estrela que era, os mais velhos diziam que deste jeito não seria possível: “Para visitar o planeta Terra, precisa nascer como uma criança humana”. Enquanto vemos telas belíssimas de vidas comuns, continuamos lendo no texto os conselhos de quem veio antes.
Dizem ao menino que ele vai começar do zero, aprendendo a usar o corpo, do caminhar ao uso das palavras. Terá uma diversidade de sensações, bem diferente da tranquilidade já conhecida; vai ter prazer, mas medo também; sentirá alegrias, mas virão as decepções. Mesmo nestes altos e baixos, vai ser difícil retornar e deixar o que viveu por lá, avisam os mais velhos, como um último aviso. Mas o menino deseja ir assim mesmo e se entregar ao inesperado, e a autora estadunidense nos mostra ao final que já sabíamos do mais importante desde o primeiro instante.
Autora: Claire A. Nivola
Tradução: Dani Gutfreund
Baião
R$69,90
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Mandí Reko – O Conto de Mandí
O livro é em guarani e tem tradução em português. É esta a leitura que fazemos assim que abrimos a primeira dupla da história, pois a língua indígena, do povo do autor da escrita, Luã Apyká, aparece primeiro. Começa tudo com um belo pássaro em voo, “em uma época em que o tempo não era colonizado dentro do relógio e voava como um pássaro livre, vivia, aqui e além dos limites do horizonte, o povo tupi-guarani”.
E assim, envolta às belas imagens de Anna Bheatriz Nunes num colorido diferente em cima do preto total das páginas, a obra narra a história de um casal que não se cansava de suplicar aos seres encantados por um filho, mesmo já com as idades avançadas. Até que uma noite brilhosa veio e o espírito da Lua se manifestou. Havia uma estrela, Mandí, que queria vir e viver na floresta. Ela veio e trouxe tudo que entendia da filosofia do cuidar.
Autores: Luã Apyká e Anna Bheatriz Nunes
Gaivota
R$59,90
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Omo-Obo: História de Princesas e Príncipes
Princesas, príncipes, rainhas e reis. Estamos em 2024 e ainda achamos que conhecemos “tudo sobre” eles, já que as ouvimos desde crianças… Pois é! Ainda estamos em 2024 e temos já uma pilha de livros no Brasil com histórias de realezas de outros lugares! Este é um segundo lançamento da escritora Kiusam de Oliveira: em 2009 ela publicou pela editora Mazza as histórias das princesas com ilustrações de Josias Marinho, depois de anos de muitos “nãos” das editoras.
Agora ela retorna, com novos projeto e textos, além do acompanhamento do pernambucano Ayodê França. Os mitos iorubás desfilam pelo livro e nos firmam a força da população negra em histórias narradas oralmente há séculos. Estão a determinada Oiá, a estrategista Oxum, o provedor Oxóssi, o generoso Omulu. No livro, vemos como cada um deles teve sua história de enfrentamento, aprendizado e superação. “Neste tempo remoto, as princesas e os príncipes vivem situações que nos apresentam pistas para lidar com circunstâncias cotidianas: das mais simples às mais complexas”, diz no final do livro a pesquisadora em educação e escritora literária Waldete Tristão.
Autores: Kiusam de Oliveira e Ayodê França
Companhia das Letrinhas
R$59,90
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Eu Quero Ser
Você sabia que 16 personagens misturados podem formar outros 4.096, o número de combinações? É o que este livro dos autores portugueses André e José Jorge Letria nos anunciam. Mas como? Naquele formato caderno + folhas cortadas em três partes de outros livros que temos por aqui. O formato e o como você entendeu, mas este livro traz o quê? Possibilidade de sonhar.
Se, na primeira página, temos “Eu quero ser o aroma da aurora/que transborda de ternura/ como um reflexo do sol” e, na segunda, o desenho de um macaco de blusa de frio com um vaso no alto da cabeça, ele pode ganhar um chapéu logo em seguida. Mas, do outro lado, o do texto, cria-se algo diferente. O que a leitora ou o leitor vai escolher ler? Vai escolher ser? Vai escolher sentir? Quem sabe “apenas” uma das últimas frases do livro: “eu quero ser uma ideia corajosa”. Quem não quer? A ideia do livro nasceu em 2019, para comemorar o aniversário da Convenção Sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral da ONU, em 1989.
Autores: André Letria e José Jorge Letria
Caixote
R$64
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O Caminho da Casa de Barro
Este é daqueles livros que nos impulsiona a pegar a capa e contracapa e abrir procurando a imagem que se forma de uma ponta à outra no “contrário” do livro. Fechando e começando o folhear é uma textura atrás da outra. O artista indígena Xadalu Jekupé, da cidade de Alegrete (RS), convida: “Vamos caminhar sob o som do trovão, vamos caminhar sobre as palavras no tempo, vamos caminhar sobre a bruma de fumaça, vamos caminhar todos juntos e, ao alcançar a terra sem males, iremos todos nos alegrar”.
E aí começa, então, um jogo entre páginas de texto e páginas só com grandes imagens, com 15 das obras dele premiadas em mostras de arte. Xadalu “fala” por meio das palavras da escritora Rita Carelli, pesquisadora que, desde criança, circula por territórios indígenas. Foi esta experiência que permitiu a construção deste livro-biografia, onde descobrimos que ele precisou sair de sua terra muito cedo e se descobrir indígena. Sentimos ao longo da obra, observando as imagens fortes e com um grafismo próprio, que ali estão conversas e silêncios de povos ancestrais. O modo de transformação tão implacável em nome do “progresso” ativou nele uma busca pela arte, isto é, uma procura por uma terra onde seja boa de viver e sonhar.
Autores: Xadalu Tupã Jekupé e Rita Carelli
Baião
R$64,90
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Aporofobia
Pode não conhecer a palavra, mas o sentimento, sem dúvida. Pode estar de um lado ou do outro. Mas, ao final do livro, a escolha nos coloca em nosso lugar. Ainda talvez sem familiaridade com a palavra, a leitora ou o leitor pode percorrer às primeiras imagens de José Carlos Lollo: bancos de praça, um adulto, duas crianças. Os três caminham assustados e nós temos tempo para olhar melhor. Com Blandina Franco, as palavras começam a aparecer mais: “Quem são essas pessoas?”, pergunta uma outra personagem criança, apontando para o trio. “Eles não são ninguém, filho”. A violenta palavra “ninguém” cai da frase e gruda nos três, sentados ao chão.
Passam mais duas pessoas e completam “acho eles fedidos” e o adjetivo novo cola neles também, assim como “medo”, “infelizes” e uns maiores como “tudo fingimento”. Quase completamente cobertos visualmente pelas palavras-julgamento, o pai começa a conversar com os filhos e limpa aquelas palavras-sujeira dali. Fica uma pergunta no ar, “por quê?”, e então a palavra que nomeia o livro aparece: aporofobia, que é o preconceito, aversão e, às vezes, ódio que se sente pelas pessoas pobres. Para o Padre Júlio Lancelotti, próximo ao projeto, o livro é como “um soco no estômago” e aposta no compromisso de transformação a partir dele. Faz parte da coleção Canoa.
Autores: Blandina Franco e José Carlos Lollo
Companhia das Letrinhas
R$9,90
companhiadasletras.com.br
A Costura
Pegar este livro nas mãos é ter a sensação de tatear um tecido, suas cores, seus vincos. Pelo texto somos anunciados a um livro por capítulos. No primeiro, “As Coisas Perdidas”, a mãe reclama que a filha perde coisas demais. “As coisas são caras e você não toma cuidado”… quem nunca? Então, nos capítulos seguintes, a menina começa a nos descrever onde vivem (de um lado, tudo organizado, bem desenhado; do outro, tudo misturado, uma paisagem cheia de nós, umas linhas penduradas) e assim por diante.
É um lugar ou um bordado? A mãe continua nervosa e a filha tem certeza de que linha e agulha podem resolver tudo, afinal, a explicação de perder tudo só pode ser por conta dos buracos que nascem no mundo, feito bolso que descostura: ‘bora remendar’. Mas depois que ela costura tudo com a certeza da solução, algo maior se revela. A obra da autora argentina Isol Misenta foi feita originalmente para um projeto de criação de histórias a partir de objetos, a convite do Palestinian Museum, quando ela esteve na Palestina em 2018. A inspiração foi um xale.
Autora: Isol Misenta
Tradução: Joana Angélica d’Ávila Melo
Pequena Zahar
R$69,90
companhiadasletras.com.br
Elza: A Voz do Milênio
A capa é impressionante: um desenho potente como foi a vida e obra da cantora Elza Soares. Nesta biografia escrita por Nina Rizzi e com imagens de Edson Ikê, sentimos um reverenciar. “Suas terras não valiam um vintém, porém sua gente era mais valiosa do que todo o ouro do mundo”, aponta Nina à imagem do quarto na Favela Moça Bonita em 1930 em que Ikê ocupa toda a dupla de páginas.
No programa Calouros, de Ary Barroso, as palavras fortes relembrando o que a cantora poderia fazer diante de um microfone: enquanto a plateia ria da aparência dela, o apresentador perguntou “De que planeta você veio?”, ela devolve “Do mesmo planeta que o seu, seu Ary: Planeta Fome!”. O grande amor vivido com o jogador Mané Garrincha, o apoio a Jango e a posição contra a ditadura militar, os limites do corpo e o mundo que poderia carregar sobre sua cabeça estão no livro, propondo um último voo com Elza. Tanto em sua ousadia, que podemos (re)ouvir em seus discos, quanto nas referências incluídas no final.
Autores: Nina Rizzi e Edson Ikê
VR Editora
R$74,90
vreditora.com.br
A partir de 7 anos
O Espaço Entre as Folhas da Relva
Já fez por aí o exercício de procurar poesia? É isso que a escritora e jornalista chilena Maria José Ferrada nos sugere. “Olhe para uma laranja. Olhe para ela sete vezes. Olhe com o nariz. Olhe com as mãos”. E, na imagem o que vemos é uma menina (ou mulher?) com os braços abertos, descendo uma ladeira na bicicleta. “Faça bolhas de sabão. Sopre até que caibam num envelope. Envie para a família” é outro texto mais adiante, com imagens de tsurus cheios de letras. O ilustrador mexicano André López faz o que o texto pede, claro: mas faz com tanta vontade que nos leva a outras dimensões de significado. E o que temos então é um livro que parece ser um trampolim para vivenciar o mundo com sentidos cada vez maiores.
Autores: Maria José Ferrada e André López
Tradução: Silvana Tavano
ÔZé
R$60
ozeditora.com.br
A partir de 8 anos
O que é um Rio?
Estão ali a avó e a neta às margens de um rio. A menina colhe flores, a avó borda. O que será que o rio esconde para além do que vemos à superfície? Este é o mote da autora sueca Monika Vaicenaviciene para nos puxar por meio do fio do rio dezenas de significados. As imagens são impressionantes e o design nos oferece uma espécie de almanaque com um formato inovador. Tem gente, tem vida, tem porcentagem. Mostra possíveis origens e caminhos e dimensiona alguns tamanhos. Há os entornos – “um rio é uma casa”, diz ela, enquanto nos mostra animais de diversas categorias. E, também, encontramos no livro os nossos rios, o Amazonas e o Negro. Por mais que a obra tenha um caráter poético-informativo – ou até por causa disso –, ela tem espaço para falar dos mistérios do rio, para além de suas curvas. O que será que guardam nesta história-percurso que parece nunca ter fim?
Autora: Monika Vaicenaviciene
Tradução: Guilherme da Silva Braga
R$79,90
wmfmartinsfontes.com.br
fonte: Crescer