No dia 30 de outubro, alunos das escolas municipais campo-larguenses que lotam a Casa da Cultura, participam do lançamento do livro infantojuvenil “Cadê a Perna do Pererê?” (Editora Cântaro). A obra, da escritora paranaense Joanita Ramos, que atualmente reside na cidade de Campo Largo, tem ilustrações da artista plástica Márcia Széliga. O evento, de acordo com a autora, é em alusão ao “Dia do Saci”, que se comemora em 31 de outubro e que – segundo ela defende – “é, ou deveria ser, uma festa mais significativa para os brasileiros do que o tradicional ‘Halloween’”.
Joanita que é branca e integrante de uma família interracial, explica que buscou, nessa obra, oferecer uma possibilidade de as crianças pretas ou pardas, e também as que têm deficiência física, encontrarem protagonistas com as quais possam se identificar – o que ainda não é frequente nas bibliotecas e livrarias tradicionais.
Mitologia brasileira
O livro chama a atenção para o fato do Saci, uma das figuras mais queridas da mitologia brasileira, ser não só preto, como também PCD (pessoa com deficiência). Assim como é preto o Negrinho do Pastoreio – personagem mitológico que foi escravizado e, segundo a lenda, castigado até a morte por não ter conseguido encontrar um potro perdido.
“O folclore brasileiro é ‘um prato cheio’ para os pais e educadores alimentarem conversas que atualizem as noções de escravização e propiciem abordagens sobre a diversidade humana”, enfatiza a autora. E exagera, brincando: “a Cuca, por exemplo, é uma ótima personagem para se entender a bipolaridade das mães e professoras” (risos).
Em “Cadê a Perna do Pererê?” Joanita conta a história de Sofia, menina leitora preta. Ao descobrir que o Saci Pererê não tem uma perna, a garota pede ao Negrinho do Pastoreio que vá em busca do membro perdido. Ao final da história, revela-se que Sofia, assim como o Saci, também teve uma perna amputada, o que não a impede de viver com alegria, utilizando os recursos da ciência para uma vida permeada de atenção, afeto e imaginação, como é o direito de qualquer criança.
O livro já está disponível gratuitamente na versão digital, neste link, mas, segundo a autora, o melhor modo de democratizar a literatura infantojuvenil é distribuir o livro físico gratuitamente a crianças da escola pública, pois muitas ainda não têm acesso a meios digitais ou não têm a cultura de consumir livros eletrônicos.
Além de oferecer às crianças um pouco de poesia e ilustrações de qualidade, o objetivo é estimulá-las à aceitação de si mesmas e dos colegas, em suas peles de diversos tons e em seus corpos, ainda que sejam “fora de padrão”.
O Projeto foi aprovado com o apoio da Prefeitura de Campo Largo e realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo – Ministério da Cultura – Governo Federal. A intenção, que a autora encara como desafio, é empreender novos projetos, sensibilizar gestores e obter apoio para que o livro chegue a crianças de todo o Brasil, e gratuitamente às escolas públicas. “Os mil livros são só o começo… Esse Pererê vai bem mais longe”, afirma a Joanita.
Sobre a autora
Joanita Ramos é jornalista, escritora, diretora de produção cultural e educadora. Mestre em Educação pela UFPR. Entre os vários prêmios e homenagens recebidas destacam-se o título Jornalista Amigo da Criança, concedido pela Rede Andi/Unicef e Fundação Abrinq, por textos em defesa da infância e adolescência no Brasil; o Troféu Dignidade Solidária (1999), como Jornalista Destaque; e o Prêmio Outras Palavras, de Obras Literárias, da Secretaria de Estado da Cultura/PR, pelos textos Patraca, o Palhaço Astronauta e Tíbeti, o Gnomo, escritos por ela para crianças. Também foi finalista da primeira edição do Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo e professora convidada de pós-graduação em Jornalismo Literário da Academia Brasileira de Jornalismo Literário – ABJL.
Fonte: PERFIL comunicação e cultura