Em 29 de março de 1924, Curitiba estava em festa. A cidade comemorava 221 anos, enquanto no bairro Capanema, às margens da estrada de ferro, uma família celebrava o nascimento de seu filho. Era Napoleon Potyguara Lazzarotto, o Poty, um dos artistas visuais mais expressivos do país. Na última sexta-feira (29/3), essa personalidade curitibana completaria 100 anos.
Poty Lazzarotto tem traços marcantes que se destacam em murais e painéis, por suas formas orgânicas e uso expressivo de cores. Espalhou sua arte por diversas cidades do Brasil e do exterior, incluindo murais em Portugal, França e Alemanha.
No Paraná, sua obra pode ser contemplada em 35 murais e painéis tombados pelo patrimônio histórico estadual, sendo que 29 estão em Curitiba. Para comemorar esse centenário, selecionamos cinco murais de ruas e praças que possibilitam conhecer a arte de Poty. Um deles fica ao lado da futura Rua da Memória, um projeto que conectará o Memorial de Curitiba à Casa da Memória, fortalecendo a mobilidade ativa e revitalizando o Setor Histórico.
Conheça um pouco da trajetória do artista
Gravador, desenhista, ilustrador, muralista e professor, começou a se interessar pelo desenho ainda criança. Suas criações ilustravam o teto do “vagão”. Em 1942 ganhou bolsa de estudos e mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar pintura na Escola Nacional de Belas Artes. Logo passou a frequentar o curso de gravura de Carlos Oswald no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. No Rio, conheceu artistas e escritores como Pancetti e Carlos Drumond de Andrade.
Quando vinha a Curitiba passar as férias de fim de ano, reunia-se com amigos artistas no ateliê de Guido Viaro. Foi onde conheceu Dalton Trevisan, editor da Revista Joaquim, da qual foi um dos colaboradores. Apesar de sua curta existência (1946 a 1948), a revista foi muito prestigiada, por reunir textos e ilustrações de artistas e escritores consagrados.
Em 1946, Poty viaja para Paris, onde permanece por um ano. Estuda litografia na École Supérieure des Beaux-Arts, com bolsa do governo francês. Na capital francesa conheceu a mineira Célia Neves, com quem se casou em 1955. O casal colecionou grande número de obras de arte de importantes artistas. Com a morte de Célia, em 1986, a coleção foi doada ao município de Curitiba, dando origem ao Museu Municipal de Arte.
De volta ao Brasil, Poty organiza cursos de gravura em São Paulo, Curitiba, Salvador e Recife, e firma sua carreira como ilustrador. Atua em jornais do Rio de Janeiro e editoras como a José Olympio, tornando-se seu principal ilustrador. Ilustrou livros de grandes escritores, como Guimarães Rosa, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Euclides da Cunha, Dalton Trevisan, entre outros.
Ao longo de sua carreira, participou de exposições dentro e fora do país e de inúmeras Bienais de São Paulo. Ao comentar sobre o seu desenvolvimento artístico, os críticos citam como determinante a viagem que fez ao Xingu, em 1967, quando passou um mês entre os indígenas, a convite do amigo indigenista Noel Nutels. A experiência teve grande influência no desenho de Poty.
A partir de 1955, o artista passa a se destacar também como muralista, com diversas obras em edifícios públicos e particulares no país e no exterior. Ele executou diversos murais, como o da Casa do Brasil, em Paris (1950), e o painel para o Memorial da América Latina, em São Paulo (1988), tornando-se um dos maiores nomes brasileiros nessa arte.
Cinco obras de Poty Lazzarotto ao ar livre
Monumento do 1° Centenário do Paraná – 1953
Onde: Praça Dezenove de Dezembro – Centro
O primeiro mural de Poty em Curitiba, na Praça 19 de Dezembro, é um painel de 3m x 30m com azulejos pintados em azul e branco. A obra apresenta sete quadros que destacam importantes acontecimentos históricos do Paraná, e simbolizam a evolução histórica do estado.
Encomendado pelo então governador Bento Munhoz da Rocha Neto, o mural foi elaborado em parceria com Erbo Stenzel e Humberto Cozzo, escultores responsáveis pela estátua do homem nu, também encomendada em comemoração ao primeiro centenário de emancipação política do Paraná.
O Largo da Ordem – 1993
Onde: Travessa Nestor de Castro – Centro
No centro histórico da capital, o mural em azulejos O Largo da Ordem traz as lembranças de uma Curitiba antiga. O painel apresenta a cidade na época em que os imigrantes vinham em carroças para vender produtos no Largo da Ordem.
Na obra estão retratados prédios que remetem à fundação da cidade e ainda podem ser visitados, como a Igreja da Ordem e o bebedouro de cavalos em frente. Há registros de que, quando criança, Poty acompanhava sua avó na venda de produtos no Largo da Ordem, como retratado na obra.
Este painel fica ao lado da futura Rua da Memória, um projeto que conectará o Memorial de Curitiba à Casa da Memória, fortalecendo a mobilidade ativa e revitalizando o Setor Histórico. A Rua da Memória combina história e tecnologia.
Imagens da Cidade – 1996
Onde: Travessa Nestor de Castro – Centro
Em frente ao mural O Largo da Ordem, que retrata a antiga Curitiba, o painel Imagens da Cidade apresenta a Curitiba atual. A obra busca resumir a história da cidade através deste contraste entre o passado e a atualidade.
O painel, considerado o maior mural cerâmico do país, com 490m², foi produzido em comemoração ao aniversário de 300 anos de Curitiba. Em suas ilustrações, Poty destaca os principais pontos turísticos: Ópera de Arame, Jardim Botânico, Rua 24 horas e também grandes símbolos como a araucária, gralha azul e as estações-tubo.
O Teatro, a Música e a Dança – 1988
Onde: Rua XV de Novembro, 971 – Centro
O mural de concreto da fachada do Teatro Guaíra brinca com a história do teatro mundial. A obra traz referências que vão desde as tragédias gregas até grandes dramaturgos como Shakespeare e Bertolt Brecht, além de referências ligadas à ópera, música, dança, autos de Natal, saltimbancos e acrobatas, até a carroça de teatro mambembe que carrega o mundo, em uma cronologia das raízes históricas das artes cênicas.
Evolução do Saneamento Básico – 1995
Onde: Praça Nações – Alto da Rua XV
Na Praça das Nações, ao lado da Sanepar, em um painel de azulejo branco, Poty conta a história do abastecimento de água na capital. A obra retrata diferentes épocas, desde um indígena à beira do rio, uma mulher carregando uma lata d’água na cabeça, as tubulações do primeiro sistema, os pipeiros que distribuíam água para a população e a água encanada.
fonte: Prefeitura de Curitiba