Desde a explosão do seu livro O Código Da Vinci, o escritor Dan Brown ficou conhecido pelas tramas sinuosas, repletas de adrenalina, mas cerebrais, envolvendo criptografia, simbologia, parceiras inteligentes e sexy, cultos religiosos secretos e violentos, e fanáticos desequilibrados propensos a assassinatos em massa e destruição.
Mas seu novo livro, por outro lado, é sobre um rato maestro que recruta um grupo de animais para tocar numa orquestra, ao mesmo tempo que oferece provérbios sobre as virtudes da coragem, paciência e cooperação. O público-alvo são crianças em idade de três a sete anos e conta com ilustrações de Susan Batori.
O livro foi lançado na terça-feira (01.09) juntamente com um álbum de música clássica para crianças chamado Sinfonia dos Animais, com músicas compostas por Brown e baseadas em canções que ele criou há 30 anos quando era um aspirante a músico, por volta dos 20 anos de idade – bem antes de publicar qualquer romance.
Na época, Brown, que hoje tem 56 anos, gravou as músicas usando sintetizadores no seu minúsculo estúdio. Ele produziu 500 fitas cassetes (e livros de bolso de poesia) e os vendeu em consignação para a livraria da localidade onde morava. O álbum recentemente lançado tem versões atualizadas das músicas originalmente compostas juntamente com outras novas, todas interpretadas e gravadas pela Zagreb Festival Orchestra, na Croácia.
É um desvio de caminho inesperado de Brown, depois de lançar sete thrillers com mais de 234 milhões exemplares vendidos que o tornaram multimilionário.
Talentos e locais ocultos
O autor conversou com a jornalista Alexandra Alter, do jornal The New York Times por vídeo chamada em agosto, da barroca e cavernosa biblioteca em sua casa em Rye Beach, New Hampshire, não muito longe de onde ele cresceu, no campus do internato Philips Exeter, onde seu pai foi professor de matemática.
Durante a entrevista, ele mostrou uma câmara secreta atrás da biblioteca que esconde uma gaveta onde está seu primeiro livro, escrito quando ele tinha cinco anos, intitulado A Girafa, o Porco e as Calças em fogo, como também um Piano Steinway onde pratica seu hobby e foi sua primeira aspiração profissional: compor música.
Para ter acesso ao seu estúdio de gravação, onde há um sintetizador conectado a um computador, ele pressiona o canto de um quadro na parede mostrando uma mulher vitoriana sentada num jardim – e uma porta escondida se abre.
As paredes do estúdio estão decoradas com discos de ouro que recebeu pelas vendas explosivas dos seus audiobooks em língua alemã – não era bem o que tinha em mente quando decidiu se tornar um músico, “mas eu os conservo”, afirmou.
O processo musical de Brown se desenvolve deste modo: ele compõe no piano, criando melodias e inserindo-as numa peça que ele memoriza. E toca a música no teclado conectado a um computador que lhe permite adicionar a instrumentação distribuindo as frases musicais para diferentes instrumentos.
Depois, normalmente a música fica guardada no seu cofre-forte digital. Mas há dois anos, quando estava em Xangai para promover seu romance de 2017, Origem, um entrevistador de TV perguntou a ele sobre um antigo e esquecido projeto. O apresentador exibiu um exemplar do álbum infantil que ele havia gravado décadas antes, originalmente chamado Synthanimals.
“Disse a ele que estava ali para falar sobre o livro Origem”, lembrou Brown. “Mas ele insistiu em falar de música”.
O novo projeto avançou logo depois disto. Brown ficou surpreso com o fato de seu álbum infantil vir à tona daquela maneira, num programa de TV chinês e isso causar sensação. A editora chinesa sugeriu lançá-lo. E seu editor americano também se interessou pelo projeto.
Assim, Brown requisitou a ajuda do projetor Bob Lord, diretor executivo da Palma Recordings e seu amigo há mais de 15 anos. Ele viajou para a Croácia para gravar com a Zagreb Orchestra e refinar a execução, fazendo pequenos ajustes nas sequências e ritmo das músicas.
“Ele realmente sabe o que está fazendo”, disse Lord, revelando que Brown também canta. “Não é só um hobby. É crucial para sua visão artística”.
Para satisfação de Brown, a editora de música clássica Boosey & Hawkes assinou contrato para editar suas partituras.
“Isso deu a ele uma validação como músico”, disse Mallory Loehr, vice-presidente sênior e editor da Random House Books for Young Readers Group, que está publicando o livro ilustrado através da Rodale Kids. (Será lançado também um aplicativo que toca músicas relacionadas a cada animal, com músicas como Busy Beetles, Brilliant Bat e Happy Hippo).
Por mais surpreendente que esta última aventura de Brown seja para seus fãs, existem elos comuns na sua música e escrita. Compor e escrever ficção estão intimamente interligados para ele.
“Para escrever uma canção ou uma peça de música clássica você tem de compreender a estrutura, a tensão e o desbloqueio. Boas frases musicais perguntam e dão uma resposta. Você não pode ter cinco cenas de caça consecutivos, da mesma maneira que não pode ter cinco fortíssimos consecutivos. É preciso haver intervalos para permitir que o ouvinte ou o leitor respire”.
*texto original: Alexandra Alter, The New York Times
*tradução: Terezinha Martino
fonte: G1/Estadão